CINEMA FEMININO, CINEMA FEMINISTA: OS CINEM@S NA BALACOBACO DE VÊNUS - Francisco Bragança

 
Não sabemos quando será o próximo Balacobaco de Vênus, mas de qualquer forma, taí o convite...
 

A Casa Félix é um espaço autogestionado por seus moradores (em sua maioria estudantes da Universidade Federal Fluminense), onde acontecem saraus libertários e libertinos. No sarau denominado Balacobaco de Vênus, tivemos projeção de filmes feitos por mulheres.

Amandi Mel – uma das gestoras da casa – é estudante de História, atriz, performer e produtora/diretora do curta-metragem Do olho ao avesso, junto de Arthur Moura. Quando indagada sobre a significação de um “cinema feminino”, Amandi Mel discorre:

- Eu vejo filmes produzidos, não só por mulheres, em que a mulher tem um papel protagonista, uma visão em que ela aparece desempenhando papéis, carregando valores, fazendo coisas que normalmente o cinema hegemônico escamoteia ou secundariza, e isso é fundamental para discutirmos questões básicas, disputarmos um novo campo. Em relação a um “cinema feminino”, eu gosto muito de citar pessoas próximas, e tenho uma amiga chamada Mariana Angelita, que dirigiu Saturno. Agora, não necessariamente me sinto contemplada pelo cinema feito por uma mulher e que não pensa a questão classista.

Outra organizadora do sarau, Fabi, estudante de História que trabalhou em edições dos festivais É Tudo Verdade e Visões Periféricas, nos diz que o filme feminino traz muito do dia a dia da mulher, e que esta se constrói num cotidiano muito forte. "O feminino dentro do cinema, e dentro de qualquer outra coisa, é a relação e o cotidiano". Ela cita a cineasta Ana Carolina, que descobriu na adolescência, como uma referência (sublinhando que sua obra tem de ser revisitada para saber se a identificação continua). "Eu fico muito feliz de ver a mulher fazendo cinema, independente das questões femininas ou feministas, porque é outra abordagem”.

No Balacobaco de Vênus, tivemos exibição, dentre outros, de alguns filmes da série sueca Dirty Daries – composta de treze curtas-metragens dedicados à estética pornô feminista.

Skin (de Elin Magnusson) nos revela uma personagem masculina e outra feminina de corpos inteiros cobertos com meias de nylon, trocando carícias íntimas, até o momento em que libertam suas bocas e órgãos sexuais da pele sintética. Dido man (de Asa Sandzén) é uma animação em computação gráfica ambientada num clube noturno onde homens voyers assistem mulheres transando. Em determinado momento, eles interagem com elas. Authority (de Marit Östberg) trata de uma mulher andrógena que entra em um terreno abandonado para grafitar. Ela é flagrada por uma policial que a domina e a envolve numa atividade de sexo selvagem, na qual se unem nos desejos de punir e ser punida. For the liberation of men (de Jennifer Rainsford) é uma abstração entre um homem travestido de mulher que se masturba e uma idosa. On your back woman (de Wolfe Madam) mostra clipes de mulheres nuas ou seminuas lutando num combate sadomasoquista. Phone fuck (de Ingrid Ryberg) narra a estória de um casal de lésbicas recém separadas que faz sexo por telefone.

Mais do que uma noite de projeções, o sarau proporcionou percepções, sensações, observações e discussões, permeadas por um "cinema feminino", por um cinema feminista e pelos cinem@s que existem dentro e fora de nós, apontando para uma estética libertária de corpos e mentes.

 

28/08/2014

FRANCISCO BRAGANÇA é cineasta.