SOMBRAS ELÉTRICAS Nº 10 - Maio de 2012

Long-Shot - ROTEIROS. ROTEIROS. ROTEIROS: O ROTEIRO E O ROTEIRISTA DE AUDIOVISUAL

BATALHAS SANGRENTAS

Isabela Lino

A arte da guerra, de Sun Tzu.

 

Esse artigo pretende analisar, de forma não acadêmica, o paralelo entre as estratégias de ataque e defesa nas produções fílmicas com os ensinamentos e princípios do livro “A ARTE DA GUERRA” de Sun Tzu, a fim de fazer uma reverência a esse grande autor, que há séculos e séculos, a profundidade de sua obra é apreciada por gerações.

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Século XXI América do Sul, Brasil. O que sabemos de batalhas sangrentas? Se vivemos em tempos de paz. Se, na prática, cidadãos de bem pouco sabem sobre o tema, certamente os que lutam de mãos armadas, nas favelas, nos guetos, nos morros conhecem muito mais do que nós esse universo. Sem nos esquecer da polícia, que recebe um treinamento específico onde aprendem táticas e estratégias necessárias ao combate.

 

A guerra real: policiais durante ocupação do Morro do Alemão.

 

No entanto, nós, pessoas à margem desse universo podemos forjar um conhecimento baseado em filmes, livros, fotos, documentários ou se, se isso fosse possível, de alguma forma nossos ancestrais guerreiros imprimissem em nossos subconscientes elementos instintivos imperceptíveis e inomináveis capazes de nos fazer adquirir uma percepção estratégica dos movimentos de ataque e de defesa.

Vamos à primeira lição:

 

Toda guerra se baseia em iludir

Usa-se diversos artifícios para iludir o inimigo. No fim, o objetivo é fazer-se mais forte ou mais fraco do que se é na verdade, dependendo da estratégia a ser utilizada. A forma mais usada é através de boatos. Espalha-se um boato, sugere-se uma ideia, o inimigo acredita e toma uma atitude, segundo as circunstâncias. Na verdade, ele foi manipulado a agir de um jeito, de uma maneira. Dessa forma, o inimigo tem uma ideia de como agir numa situação, mas está sendo manipulado e há alguém por trás da história que vai se beneficiar com esse movimento.

A ideia é confundir o inimigo, este deve saber tudo ao contrário: se estiver perto, ele deve pensar que você está longe, se você estiver fortalecido, ele deve pensar que  está fraco. Nunca deve saber a verdade.

 

Ganham-se as batalhas antes da luta

Na prática, isso significa que, antes de entrar para uma batalha deve-se planejar. Sondar o inimigo e nunca agir ao acaso.

 

Michael Douglas, Charlie Sheen e Daryl Hannah no cartaz de Wall Street – O dinheiro nunca dorme, de .

 

No filme Wall Street – O dinheiro nunca dorme I, o personagem de Michel Douglas, grande acionista da bolsa de valores, deu uma aula sobre negócios para o principiante, interpretado por Charles Sheen, fazendo referência à bíblia em questão, A arte da Guerra – objeto de nosso estudo:

- Eu não invisto ao acaso. Faço apostas em coisas certas.. Sua frase traduz o conceito de Sun Tzu de que se ganha, antes de entrar. Fazendo um bom planejamento antecipadamente.

No filme, o personagem de Michel teve que abrir mão de um negócio para outro investidor e observem a sabedoria em palavras:

A chave do jogo é ter reservas de capital. Se a gente não tiver o suficiente, a gente não pode competir com os grandes. Se seu inimigo for superior, evite-o. Se estiver zangado, irrite-o. Se forem iguais, combata-o. E se não for, divida-se em grupos. Reavalie. Ou você faz as coisas direito ou é eliminado.

Preparar-se para uma batalha, também exige conhecer seu inimigo, prever como será o ataque e desenvolver métodos novos para se defender.

 

Ataques

“A invencibilidade está na defesa, a possibilidade de vitória, no ataque. Quem ataca, mostra que sua força é abundante, quem se defende que ela é inadequada. A defesa é para tempos de escassez e o ataque para tempos de abundância. “. Sun Tzu

Um ataque para ser bem sucedido deve ser bem planejado, deve-se conhecer os pontos fortes e fracos tanto do oponente quanto de si próprio. Deve-se ter informações confiáveis. O guerreiro não pode ir à batalha com medo, nem inseguro.

O filme “Centurião” retrata as batalhas na região da Bretanha entre os Romanos e os Pictos - povos locais.

 

Cartaz de Centurion.

 

Havia um ritual, em que os Pictos pintavam o rosto com as cinzas da fogueira.

 

Cena de Centurion.

 

Quando isso acontecia, significava que eles não iam falhar, não tinha mais volta. Iam em busca da presa, seguindo-a pelo terreno, buscavam pistas no chão, pegadas, rastreavam através do vento, pois quando se está a favor do vento, ele traz o cheiro.  Lendo o terreno, seguiam o inimigo e cercavam-no até a morte. Usavam seus sentidos e instintos e não desistiam. O FIM É A DESTRUIÇÃO TOTAL DO INIMIGO.

 

O ataque-surpresa é o mais utilizado.

Na série Spartacus, no último capítulo, o gladiador Spartacus e seu grupo ficaram encurralados no alto da montanha pelo pretor romano e seus soldados. O pretor (que corresponde ao general das tropas romanas) decidiu não atacar naquele momento, pois os rivais tinham a vantagem: estavam num terreno mais elevado. A ordem era esperar. O pretor acreditava que famintos e com frio, o bando de Spartacus iria descer a montanha, estando fracos e debilitados poderiam ser derrotados mais facilmente.

Porém, Sun Tzu nos diz que sempre deixemos uma brecha para o inimigo escapar, pois encurralado e ameaçado o inimigo se tornará mais forte ao lutar por sua própria vida.

Foi o que aconteceu, no meio da madrugada sem que os romanos esperassem o bando de Spartacus atacou. O fator surpresa foi decisivo para sua vitória.

 

Cena da série Spartacus.

 

Ataques noturnos

O ataque-surpresa consiste em pegar o oponente despreparado, deixá-lo sem reação, perplexo. O melhor momento depende da estratégia do combatente, mas o período noturno parece ser o mais promissor dos períodos: boa parte do grupo está cansada ou dormindo e os que estão em sentinela são a minoria, também exausta e sofrendo de tédio. Pode-se atacar diretamente ou enviar algo para distrair sua atenção.

Ataca-se silenciosamente os que estão em vigília. Logo, todo o território estará dominado. O ataque é rápido, forte e sangrento. Não é um combate aberto. Nesse tipo de ataque, o combatente está face-a-face ao ponto fraco do seu oponente, Sun Tzu sugere que em tais casos o ataque deverá ser com golpes profundos para exterminá-lo de vez ou no mínimo desestabilizá-lo. Em seguida, deve-se sumir nas sombras da noite.

“Se você descobrir o ponto fraco do oponente, você tem que afetá-lo com rapidez. Procure o ponto mais fraco e, ali, ataque com a sua maior força”. (Sun Tzu)

O primeiro a ser detonado, se possível, deve ser o comandante ou aquele que detém mais poder de fogo. Afinal, “para matar a cobra você precisa arrancar sua cabeça”.  Quando o comandante é abatido, toda a tropa se perde na batalha, seja pelo sentimento ao seu líder morto, seja pela falta de ordens de comando. Ocorre a queda de uma unidade e cada um vai lutar por si. Dependendo da estratégia, o combatente ou captura esses soldados ‘órfãos’ ou os aniquila ali mesmo.

 

Exemplos de batalhas

 

Cartaz de O último samurai

 

Em ‘’O último samurai’’ (The Last Samurai), temos Tom Cruise encarnando o próprio título do filme e embora os samurais tenham sido derrotados fisicamente, espiritual e ideologicamente saíram como grandes vencedores na mensagem final da história.

Os samurais são soldados disciplinados, a estrutura hierárquica é muito respeitada, não são covardes, não têm medo de batalha alguma, nem da morte, cultuam seus ancestrais com grande reverência. Mantém sua honra a todo o custo, pois sua honra representa a honra de todos os seus ancestrais. Preferem morrer por suas próprias mãos a dos inimigos.

Entendam como os samurais combateram o exército do Japão no filme:

Os samurais fingiram-se mais fracos, deram a acreditar ao inimigo isso, inclusive perdendo alguns homens de frente. Não revelaram suas estratégias, o exército japonês pensava que os samurais lutariam apenas com arcos e flechas. Mas eles estavam mais bem preparados. Conseguiram dar a entender que não tinham outras armas e que estavam em número inferior, com isso o exército oponente avançava. Utilizando-se da tática de se mostrar menos forte atraíram o exército japonês ao lugar certo, onde lançaram sua armadilha de fogo e detonaram em massa. Lançaram, com uma única flecha, fogo no rastro de pólvora no lugar adequado, onde o exército japonês tinha sido atraído, pensando que estavam vencendo e avançando sobre o território oposto.

Como o número de inimigos era superior, no início do combate, os samurais atacavam de longe. Só depois desses ataques em que o número dos oponentes reduziu-se, eles partiram para o ataque corpo- a – corpo.

Obs.: A essa altura, a moral do exército japonês estava abalada, por causa da surpresa com os novos elementos de ataque e pela perda de soldados. E a moral dos samurais estava elevada, pois mesmo tendo poucos homens e lutando contra armas de fogo, que eles não possuíam, conseguiram, com sua estratégia, derrotar ao menos 50% dos inimigos sem contato direto.

 

Cena de O último samurai.

 

“A prudência e a firmeza de um pequeno número de pessoas podem chegar a cansar e a dominar inclusive numerosos exércitos”.  Sun Tsu

 

E tem mais: os samurais não lançaram todos os seus homens nessa primeira frente de batalha. Quando viram que estavam perdendo, chamaram os “reservas” que vieram a cavalo e foi mais um fator surpresa para o outro lado.

 

O Fogo

 

Outra cena de Spartacus, a série.

 

Nos tempos antigos, o fogo era um grande aliado. Aquecia do frio, intimidava os animais selvagens, assava o alimento, clareava a escuridão da madrugada... mas também era uma arma de destruição em massa.

No filme “Centurião”, os pictos – povos que ocupavam a Bretanha antes da chegada dos romanos-  também o utilizaram o fogo como arma de ataque. Eles cercaram um comboio de romanos da 9ª legião na parte baixa da floresta e, sob o nevoeiro, bolas enormes de fogo eram lançadas pelos guerreiros pictos ao encontro do exército  romano.

Podemos dizer que o fogo era a base de ataque dos povos antigos e só depois eles lutavam pessoalmente.

 

As frases mais marcantes – pérolas dos filmes que deram origem a esse artigo

 

“Para vencer um inimigo, você deve conhecê-lo bem”.  (Centurião)

“Escravos não custam nada. Confiança não tem preço”. (Centurião)

“São os homens que estão na batalha e não seus deuses”. (Centurião)

“Eu não devo lealdade a nenhum homem, somente àquele que eu escolher”. (Centurião)

“Pare de falar mentiras sobre mim e eu paro de falar verdades sobre você”.(Wall Street II)

“Um pescador sempre vê outro pescador de longe”. (Wall Street II)

“Transformar 100 milhões em 1 bilhão? Tem que ter cérebro para isso.’’ (Wall Street II)

“Se a gente não estiver por dentro, a gente está por fora”. (Wall Street II)

 

ISABELA LINO é bacharel em Letras pela UERJ, atriz e editora da Revista do Ator (em fase de finalização). Contato: prof.isabela.lino@gmail.com.

 

© 2012 – Isabela Lino.

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